De
Buchi Emecheta publicou-se em Portugal, em 2000, o romance
A Menina Escrava, (Editorial Caminho, Lisboa) numa tradução de Manuel Ruas.
Sob a autora, o livro junta algumas notas
bio-
bibliográficas, indicando ser natural da cidade de Lagos, na Nigéria. Muito nova sofreu a perda do pai, um empregado ferroviário. Com a idade de dez anos obteve uma bolsa para estudar num liceu metodista, que acabou por abandonar aos dezassete, casando e tendo o primeiro filho. Com o marido emigrou para Londres, onde este estudava, vindo-o mais tarde a deixar.
Ao mesmo tempo que foi criando os seus cinco filhos, foi escrevendo pelas madrugadas para além de tirar um curso de
sociologia.
O romance
A Menina Escrava tem como ideia fundamental a tradição como fonte modeladora dos comportamentos. No
entanto,
mesmo em em comunidades próximas, a tradição pode ter interpretações diferentes. Assim, comunidades como as de
Umuisagba, mais relacionadas com outras, têm tendência a respeitar menos a tradição. Outros como os de
Ibuza, têm tendência para manter as tradições. Mesmo práticas externas que
adoptaram com alegria, como a adopção da religião católica, não deixam de ser
complementadas por práticas ancestrais. As velhas crenças e os velhos valores continuam a intervir na ideia de felicidade das pessoas. É isso que explica a alegria espontânea de
Ojebeta, a menina escrava, que apesar da sua historia de vida ser dominada pela ideia de ser livre, não pode deixar de se sentir feliz quando o marido comenta o dinheiro que teve que gastar com ela, sentindo que foi bem avaliada. As palavras finais são uma forma irónica de denunciar a permanência da escravatura.
"Deste modo, enquanto a
Grã-Bretanha saía novamente vitoriosa de uma guerra, gabando-se de ter posto fim à
escravatura - que tanto ajudara a disseminar em todas as suas colónias negras -,
Ojebta, agora uma mulher de trinta e cinco anos, mudava de dono."